Aquela falta
de ar me tomou o dia hoje consumindo-me as horas mais uma vez, mas controlei o
fôlego o quanto pude, eram-me estranhas e ao mesmo tempo muito familiares
aquelas sensações.
Tarde cinzenta,
com cara de mal humorada e de testa franzida, pensei em aproveitar a agenda
vazia e a atmosfera propícia pra descansar, talvez pudesse dormir um pouco se
conseguisse desligar o celular, mas meu estado de alerta contínuo e teimoso não
me deixou escolha, o jeito foi ver um filme na cama com o aparelho no modo silencioso,
o que me coube pra esta tarde de terça. Não consegui distrair-me o bastante pra
sair deste estado patologicamente melancólico, queria estar sozinha, mas senti
sua falta a cada instante, precisava do seu abraço, do seu colo.
Final de filme
decidi tomar um banho, quem sabe assim apressaria a sua chegada. Queria estar
perfumada, feminina. Abri o armário e encontrei uma saia bege e uma blusa em
tom cru, não pensei duas vezes:” É isto que vou vestir, esta sou eu hoje!”.
Cabelos soltos, respondi indagações curiosas de vozes infantis, instruí
verdades, repassei tarefas. Você chegou.
Servi-lhe uma fatia de torta, uma xícara de café e sorri acariciando o seu
rosto. Senti-me grata por tê-lo mais um dia ao meu lado, porém a ansiedade não
passou. Começou a tomar proporções angustiantes, as terminações nervosas se
puseram a oscilar desordenadas, inquietas, impacientes. Mistos de frio, calor,
arrepios, tensão e relaxamento me saíam pelos poros como vapor.
Propus então
uma ida ao cinema, ao shopping, ou outro passeio qualquer. Queria agora estar a
sós, mas com você ao meu lado. Nada feito. O momento não era favorável. Um
banho então? Sim, um banho. Um calmo e degustado banho a dois relaxou-me mais.
Deitamos na cama e nos pusemos a olhar um para o outro. Me perdi no contemplar
da sua Iris, me vi suspensa, inerte sem a menor gravidade. Só me encontrei segundos depois quando caí na
lembrança de um corredor de piso frio e vermelho, sob a luz de uma pequena
fenda em forma de um losango de vidro, na parte superior da porta de madeira
antiga que limitava o espaço da rua. Lembrança de uma tarde angustiante de
adolescência, quando me dei conta de que estava sozinha, de que tinha sido
esquecida, abandonada.
Que tamanha
dor poderia ser maior do que esta? Dor de abandono, de esquecimento, de
solidão. Dor de perda. E onde ele estava quando eu mais precisei? Por que esta
ausência ainda me perturba? Por que não consigo controlar o choro, respirar
direito? Por que me sinto tão vazia, tão
pequena? E por que não encontro respostas? Por quê?
Rejeitei a
pretensão de resolver a questão dando razão ao autocontrole e permiti-me deitar
no seu peito, desfrutar do conforto do seu abraço e receber a sua acolhida.
Expus as lágrimas sentidas, soluçadas num tempo breve sem nada dizer, apenas
senti. E quando ouvi “Estou aqui”, voltei. Mais livre, mais firme, melhor.
Obrigada! Pelo
seu silêncio, pelos seus braços, pelo seu amor. Nossos filhos são lindos! Vou
aquecer o jantar e tornar a escrever o Trinta Páginas.
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