Diário de bordo!

Diário de Bordo!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Cumplicidade Abstrata


Aquela falta de ar me tomou o dia hoje consumindo-me as horas mais uma vez, mas controlei o fôlego o quanto pude, eram-me estranhas e ao mesmo tempo muito familiares aquelas sensações.
Tarde cinzenta, com cara de mal humorada e de testa franzida, pensei em aproveitar a agenda vazia e a atmosfera propícia pra descansar, talvez pudesse dormir um pouco se conseguisse desligar o celular, mas meu estado de alerta contínuo e teimoso não me deixou escolha, o jeito foi ver um filme na cama com o aparelho no modo silencioso, o que me coube pra esta tarde de terça. Não consegui distrair-me o bastante pra sair deste estado patologicamente melancólico, queria estar sozinha, mas senti sua falta a cada instante, precisava do seu abraço, do seu colo.
Final de filme decidi tomar um banho, quem sabe assim apressaria a sua chegada. Queria estar perfumada, feminina. Abri o armário e encontrei uma saia bege e uma blusa em tom cru, não pensei duas vezes:” É isto que vou vestir, esta sou eu hoje!”. Cabelos soltos, respondi indagações curiosas de vozes infantis, instruí verdades, repassei tarefas.  Você chegou. Servi-lhe uma fatia de torta, uma xícara de café e sorri acariciando o seu rosto. Senti-me grata por tê-lo mais um dia ao meu lado, porém a ansiedade não passou. Começou a tomar proporções angustiantes, as terminações nervosas se puseram a oscilar desordenadas, inquietas, impacientes. Mistos de frio, calor, arrepios, tensão e relaxamento me saíam pelos poros como vapor.
Propus então uma ida ao cinema, ao shopping, ou outro passeio qualquer. Queria agora estar a sós, mas com você ao meu lado. Nada feito. O momento não era favorável. Um banho então? Sim, um banho. Um calmo e degustado banho a dois relaxou-me mais. Deitamos na cama e nos pusemos a olhar um para o outro. Me perdi no contemplar da sua Iris, me vi suspensa, inerte sem a menor gravidade.  Só me encontrei segundos depois quando caí na lembrança de um corredor de piso frio e vermelho, sob a luz de uma pequena fenda em forma de um losango de vidro, na parte superior da porta de madeira antiga que limitava o espaço da rua. Lembrança de uma tarde angustiante de adolescência, quando me dei conta de que estava sozinha, de que tinha sido esquecida, abandonada.
Que tamanha dor poderia ser maior do que esta? Dor de abandono, de esquecimento, de solidão. Dor de perda. E onde ele estava quando eu mais precisei? Por que esta ausência ainda me perturba? Por que não consigo controlar o choro, respirar direito?  Por que me sinto tão vazia, tão pequena? E por que não encontro respostas? Por quê?
Rejeitei a pretensão de resolver a questão dando razão ao autocontrole e permiti-me deitar no seu peito, desfrutar do conforto do seu abraço e receber a sua acolhida. Expus as lágrimas sentidas, soluçadas num tempo breve sem nada dizer, apenas senti. E quando ouvi “Estou aqui”, voltei. Mais livre, mais firme, melhor.
Obrigada! Pelo seu silêncio, pelos seus braços, pelo seu amor. Nossos filhos são lindos! Vou aquecer o jantar e tornar a escrever o Trinta Páginas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário